O leitor acompanhou a história daquele burlão que apareceu
na comunicação social a dar falsas esperanças aos portugueses? Foi
realmente incrível, a mensagem de Natal de Pedro Passos Coelho. Quando o
primeiro-ministro prometeu que, para o ano, todos iríamos beneficiar de
novas oportunidades, fiquei com a sensação de que, em 2013, o País ia
ser um lugar de sonho, em que toda a gente conseguiria usufruir de
condições excepcionais para subir na vida. No fundo, que o Portugal do
ano que vem seria para os portugueses o que o BPN da última década foi
para aqueles amigos do Presidente da República. Por isso mesmo, a
promessa não me entusiasmou. Gozar daquele tipo de benefício pode ser
agradável, no início, e até render milhões, mas depois sabemos como tudo
acaba: olhe-se para as dezenas e dezenas de implicados no escândalo do
BPN, para as fortunas que tiveram que devolver, para as duras penas de
prisão que estão a cumprir. A esse preço, ninguém deseja ser
bem-sucedido na vida.
Falou-se ainda noutro burlão, mas confesso que não consegui
perceber a história. Primeiro, a comunicação social disse que se tratava
de um prestigiado professor de economia social e observador das Nações
Unidas. Depois, a mesma comunicação social disse que era um charlatão.
Eu, que não acredito em nada do que vem na comunicação social, fiquei
satisfeito com a minha posição de princípio, mas sem saber o que pensar
acerca deste caso concreto. Limitei-me a registar, com alguma surpresa, o
entusiasmo dos que se gabaram de ter encontrado um burlão em Portugal.
Olha que façanha. É por isto que o País não avança: as pessoas
contentam-se com pouco. Muito menos compreendi a galhofa de quem
assinalou que o burlão tivesse tido tempo de antena. Toda a gente sabe
como funciona o mundo: um charlatão crítico da austeridade pode
conseguir uma tribuna na televisão; um charlatão partidário da
austeridade pode chegar a secretário de Estado. Ou até um pouco mais
acima.
Não quero fazer a rábula do cínico, mas a verdade é que o País já
não me surpreende com estes truques antigos. Portugal terá de se
esforçar muito mais se quiser impressionar-me - e acredito que queira.
Sonho, por exemplo, com o dia em que não leremos considerações sobre o
Natal no facebook de Pedro Passos Coelho, mas considerações sobre Pedro
Passos Coelho no facebook do Natal. Bem sei que as quadras festivas não
têm (por enquanto) facebook, mas seria tão estimulante para o povo
português que os desabafos de Passos Coelho sobre o Natal fossem
substituídos por desabafos do Natal sobre Passos Coelho. Exemplifico:
"Amigos, este não era o primeiro-ministro que merecíamos. Muitas
famílias não tiveram na Consoada os pratos a que se habituaram porque
ele aumentou os impostos e cortou os subsídios, apesar de ter garantido
que não o faria. A todos vós, no fim deste ano tão difícil em que tanto
já nos foi pedido, peço apenas que procurem a força para, quando olharem
os vossos filhos e netos, o façam não com vergonha por terem votado
neste homem, mas com a esperança de quem sabe que a legislatura só dura
até 2015 - ou mais cedo, se Paulo Portas entender que isso é benéfico
para o CDS-PP. A Páscoa e eu desejamos a todos umas Festas Felizes. Um
abraço, Natal." Isso seria suficientemente bizarro para conseguir ser
surpreendente em Portugal. Ao menos, durante dez minutos.
Sem comentários:
Enviar um comentário