Este fim de semana, Miguel Relvas apareceu na escola da JSD
- um estabelecimento escolar que deveria ser inspecionado, já que dali
pode surgir mais um futuro primeiro-ministro - e estava mais satisfeito
do que nunca. Enquanto os restantes ministro envelhecem, Relvas parece
cada vez mais jovem. Ele transborda vitalidade e alegria.
Ainda antes de Fernando Seara se apresentar como candidato à Câmara Municipal de Lisboa, já Relvas anunciava que contava com o seu voto.
Começar com um patrocínio deste calibre não augura nada de bom para
Seara, que já contaria com uma campanha muito difícil. Mas, ainda assim,
Relvas tornou o seu apoio público. Devemos concluir que acha que o seu
apoio vale, para fora do PSD, alguma coisa. Que ignora que a generalidade dos portugueses não o respeita.
A aparente inconsciência de Relvas sobre a forma como o País o vê faz-nos pensar que vive alheado da realidade. E que é essa jovial inconsciência
a fonte da sua vitalidade. Acho que é um engano. Relvas é um político
de outra natureza. Não é que a opinião que os outros têm dele lhe seja
indiferente. Se fosse, não tinha feito tudo, menos estudar, para ter um
canudo. Só que a opinião que lhe interessa não é a nossa.
Miguel Relvas é um fraco demagogo. O seu estilo populista passa mal. Mas, nos corredores, é um político hábil.
As privatizações, o seu verdadeiro desígnio, lá se vão fazendo. Na
realidade, devemos chamar-lhes doações. A TAP renderá vinte milhões, que
mal dão para um pequeno troço de autoestrada. Metade da RTP, gerida
totalmente por privados e financiada pelas taxas pagas pelos cidadãos,
deverá render menos que isso. Mas conseguirá fazê-las. Na televisão e
rádios públicas e até em alguma comunicação privada está a conseguir
fazer uma limpeza nunca vista. Quem se mete com Relvas leva.
A forma descarada como tudo isto se faz diz-nos que Relvas não se preocupa especialmente com a sua imagem pública.
Um político tão hábil não pode estar assim tão divorciado da realidade.
Também não me parece que o mova a riqueza pessoal. Nesta altura, faria,
com a boa agenda que tem no PSD, melhores negócios estando fora do
governo.
Miguel Relvas é um arrivista. É essa a sua
história. É isso que explica quase todas as decisões que tomou no
passado e toma no presente. A sua ascensão social não depende
exclusivamente ou especialmente da sua conta bancária. E muito menos da
sua popularidade. Depende da sua aceitação no meio a que sonha pertencer.
Um meio que, em Portugal, não é especialmente exigente. Nem do ponto
vista cultural - e Relvas cumpre os mínimos, próximos do zero, que a
nossa elite económica exige aos recém-chegados -, nem do ponto de vista
ético. Apenas exige que se tenha uma licenciatura para que não se tenha
de usar o título de "senhor", quem noutros lugares é um elogio e por cá é
um insulto. E, acima de tudo, que se tenha poder. Não respeita pilha-galinhas e sucateiros. Mas respeita
quem lhe dê acesso direto à mama estatal. E Relvas tem a chave do cofre
e ligação direta aos grandes empresários deste País.
Pedro Passos Coelho é um deslumbrado.
Deslumbra-se com a alta roda do poder europeu. Com o brilho dos círculos
restritos do poder. Com as ideias da moda e os académicos que as vendem
a retalho. Relvas, que é mais dotado de senso comum do que os
fanáticos que lhe fazem companhia no governo, sabe onde realmente está o
poder que conta. É no meio dele que vai buscar a sua energia. Não a
disfarça com leituras apressadas de sebentas ideológicas para
iniciados. Nem essas fez. Quer ser um entre os que realmente mandam neste País. E vai ser.
Todos os políticos têm de ser um pouco vaidosos.
Ninguém aguenta a visibilidade e o escrutínio público desta função se
não o for. Há uns que querem ser lembrados pelo seu povo. A outros basta
saber que um dia foram importantes. Homens como Relvas preferem ser
respeitados pelos poderosos. Viverem no meio deles. Não são os mais
perigosos. Predestinados como Vítor Gaspar assustam-me muito mais. Mas, de rédea solta, saem bem caros a um País.
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